Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, com a alva, é certa;
e Ele nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra.
Oséias 6 : 3

4 de outubro de 2011

AMAR A DEUS NÃO DÓI!



"Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos.
Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos..." 1 João 5 : 2 - 3.

As palavras de São João estão baseadas no princípio universal do AMOR.  O tratamento que o apóstolo dispensa ao tema do Amor e suas implicações plausíveis para aqueles que acreditam em Deus são fundamentais para a compreensão do advento da Salvação na vida dos crentes e a relação de coerência entre a prática do amor ao próximo e aquela referida, stricto sensu, ao relacionamento com o Altíssimo na condição de filhos legítimos, que herdaram o direito do amor Daquele pela morte de Jesus Cristo, num calvário injusto e numa cruz maldita.

A premissa do amar a Deus é distinta do fenômeno que nos transforma quando nos tornamos os arautos do amor e sua expressão altaneira em relação à proximidade; i.e., todos que desconhecem a Palavra de Deus e, portanto, ignoram o verdadeiro sentido do Amor. A impressão incial, neste sentido, parece ser a da liberdade alcançada com o advento da Graça, além dos males que nos escravizaram antes da consciência sobre o evangelho vivo de Cristo, na terra contaminada pelo pecado, ainda original. Assim, a perseguir esta ótica falseada da realidade, o amor estaria livre de quaisquer amarras, e o mundo, conseqüentemente, seria um estado contínuo da ação do Amar, conjugado em infinitivos pessoais e impessoais - um rascunho possível da Utopia. Mas esta ambiência idealizada é um impedimento natural para o cumprimento de todas as sentenças bíblicas sobre o tempo da Graça, seus desdobramentos previstos, com o fim dos tempos, bem como a dificuldade de se amar em um mundo que está mergulhado na atmosfera do Mal. O paraíso dista, ainda, dos olhos daqueles que nasceram de novo, e que esperam, fortalecidos na fé, o dia do juízo e o da consequente coroação de todos os Filhos de Deus como habitantes da nova Jerusalém.

Amar a Deus, em direção contrária a todas as leis regentes no mundo dos homens,  impõe, de forma inequívoca, um aparente paradoxo. Qual seja: se o conhecimento da verdade é a condição para a libertação da alma de todos os elos que mantinham aquela presa a uma realidade fadada à desgraça, como pensar em uma liberdade, que tem como condição prima um ato do qual não se pode refutar? O mistério se revela e o paradoxo se desfaz, elevando a consciência e a alma humanas  para um plano singular, cuja pertença é a do espírito santificador e purificador de Deus. Antes de amar a Deus é necessário obedecer a Ele. Obediência é a palavra de ordem; e, desse modo, emana da vontade soberana do Pai, que a transmite a todos que creem e amam a sua Palavra, de forma inconteste.

Pais existem para amar seus filhos. Filhos existem, também, para amar seus pais. Cabem aos pais o cuidado, o zelo e a proteção dos filhos; todavia, cabem aos últimos o exercício da obediência àqueles, constante e ininterruptamente. Esta é a relação vital para que o jogo de forças, que mantém o equilíbrio nas relações pais-filhos, promova a expansão sem medida deste sentimento, que, por sua vez, ao ultrapassar os elos da dependência natural e necessária, abre cadeias, rompe fronteiras e produz vida, além da existência finita que nos caracteriza nos limites do Universo aparente e nas bordas dos mundos essenciais, pois o amor é o gerador de todas as coisas, seres e enigmas guardados na consciência divina.

Guardar os mandamentos de Deus, segundo as palavras de São João, é selar a relação de cumplicidade entre os filhos que amam o Pai, preservando a vontade soberana do Altíssimo, e delegando a Ele toda sorte de desígnio para que a direção de nossas vidas esteja explícita e irrestritamente em suas mãos, dadivosas, acolhedoras e misericordiosas.  Cumplicidade que se completa na escuta do Espírito Santo, que nos envolve e nos indica, através do sobrenatural, qual caminho devemos / deveremos trilhar como seguidores do Cristo, o primogênito de Deus.

Amar a Deus implica guardar seus mandamentos. A guarda é o estado de vigília, em silêncio, no qual a oração é a bússola que norteia a busca pela presença Daquele, através da perseverança em dialogar com o Pai; nas atitudes que consagram a vida de um cristão autêntico, e, principalmente, obedecendo às ordenanças do Senhor, que entregou à morte de cruz o seu único filho no lugar da humanidade inteira para que todos tivessem o direito inalienável da Salvação. Assim, Deus, em sua grandeza, não pensou; antes, agiu, e o fez em segredo, desde que Moisés fora retirado do seio da realeza egípcia para iniciar uma trajetória épica, e que culminaria na vinda do Messias, quase dois milênios, após a escravidão de um povo marginalizado, e que era denominado como o povo que vivia à margem de um certo rio: os Hebreus. A saga de um sonho, que fora, em verdade, uma promessa fundada em profecias, em épocas distintas, na história dos Hebreus, para atingir o cumprimento da Palavra, em sua totalidade, com o advento da vida do próprio Cristo, em carne e osso.

Eis a oportuna indagação: doeu em Deus quando ele deu aos homens da terra o seu filho, o seu único filho, Jesus Cristo, para morrer, de forma cruel e vergonhosa, pendurado num pedaço de madeiro, sem nunca ter cometido um pecado sequer? Não doeu; e todos nós sabemos disto, e esta resposta é tão sólida quanto o advento da crucifixão da qual o Filho de Deus não pôde escapar porque o que estava escrito acerca do Cristo tinha de se cumprir para que todos nós nos livrássemos da morte eterna.

Ora, se Deus não sentiu a maior dor de um pai ou de uma mãe, que é a de perder seu único filho para um propósito universal, que foi a consolidação do Plano da Salvação até à consumação dos séculos, por que sentíriamos qualquer tipo de incômodo ou algum tormento em nome do nosso amor ao Pai, que é, simplesmente, a obediência a seus mandamentos? Guardar seus mandamentos não é fardo ou algo penoso para seus filhos. Ao contrário, é carga leve; é regozijo; é viver o evangelho da Graça, em toda sua plenitude! Guardar os mandamentos de Deus é obedecer; e obedecer não dói! O tempo da Graça é o tempo da liberdade, mas a liberdade para o cristão exige renúncia, mudança de comportamento, novos modos de pensar; regras que devem ser coadunadas com prática de uma vida transformada a partir de uma consciência clara, ampla e permanente sobre o valor do Evangelho e seus princípios que, efetivamente, guiam os Filhos de Deus pelo caminho da retidão, e que, em última análise, é o itinerário da Verdade.

A obediência aos mandamentos de Deus não significa morrer como Jesus Cristo morreu: execrado, humilhado e sacrificado. Mas a desobediência, ato contínuo, gera a morte: a morte física e a morte eterna. Estado da desgraça sob o véu imutável da Eternidade. 

Amar a Deus é compartilhar com o Pai da própria Eternidade; amar a Deus é obedecer às suas ordens conduzidas pela Fé, inquestionavelmente; é ser cúmplice das primícias do Espírito Santo, que nos garante a verdadeira felicidade, e que só interessa àqueles que realizaram com o Senhor o maior de todos os anelos: o Concerto do Amor. 

23 de agosto de 2011

QUANTO VALE UMA CRUZ?


Tendenciosamente mal, o Homem, ainda escravo de uma herança primeva, que fora o pecado adâmico, e que assolou toda a Humanidade, sabe que o acesso à restauração plena de si, no plano da Criação, é o reconhecimento indelével do Cristo crucificado, morto e ressuscitado, em sua vida, através do advento da conversão. No entanto, a compreensão míope das pessoas acerca do advento do Cristo Jesus como elemento redentor, apresentado nos evangelhos dito novos, é o movél, em desvio singular, na atualidade, e que, lamentavelmente, faz parte da conduta descompromissada, equivocada, e, em última análise, comprometedora das pessoas que não se comportam à altura do Filho de Deus, que tivera a pior morte que um ser humano poderia ter tido.

Destarte, o desnível entre o episódio crístico, que fora a morte injusta do Messias na cruz, representando, para além do cumprimento das diversas profecias, o fim da era do pecado, e a falta da prática de muitos, que se proclamam cristãos, nos dias atuais, e que, irreverentemente, não dão a devida importância para o sacrifício do Homem sem pecado no Calvário, no lugar da Humanidade, assombra aqueles que sabem o real significado da palavra escândalo e das admoestações bíblicas sobre a apostasia, a conduta ilícita, a perversão dos princípios, e, finalmente, da aparência do Mal, que ainda tenta triunfar sobre o Bem.

Ter fé é ter consciência de que os valores espirituais, que o Homem herdou nos tempos da Graça, com a consolação do Espírito Santo, não devem ser jamais corrompidos; caso contrário, os cristãos perderão o direito de serem os legítimos guardiães, vigilantes, e, em última instância, as sentinelas vivas da palavra de Deus, no reino estabelecido no mundo e no paraíso renovado nos céus.

14 de agosto de 2011

A BUSCA DA SANTIDADE




"Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra;
Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus."  
                                                                                                   Colossenses 3 : 1 - 3.


As palavras do apóstolo São Paulo, dirigidas aos Colossenses, impressionam, sobremaneira, aos leitores das Escrituras Sagradas pela reflexão que aquele protagonizou, à época, pela exortação feita àquele público, e, conseqüentemente, pela extensão daquela aos dias atuais, em que a Graça parece dar sinais nítidos de que seu tempo está no fim.

São Paulo, ao exortar os cristãos naquele momento, e de forma contundente, objetivou sua mensagem no evento que compreendeu a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, já prenunciada pelas escrituras. Assim, a divindade que tomou a forma humana, morreu crucificada, e ressuscitou três dias após sua injusta execução, cumprindo a profecia messiânica, vaticinada pelo profeta Isaías, há, aproximadamente, 700 anos atrás, representa, para os cristãos que se converteram e para aqueles que ainda ouvirão as Boas Novas, no milênio, a morte individual de cada um, através de um sacrifício singular, e a ressurreição, em vida, para gozar dos direitos inalienáveis do Reino, estabelecido na terra.

Na conversão, o reconhecimento, a redenção e o devido aceite de Jesus Cristo, como único e suficiente salvador na vida da criatura, garantem, de imediato, a passagem  do plano terreno para o plano espiritual. Assim, não mais consideradas como criaturas, mas filhos do Criador, homens e mulheres podem ser, com efeito, chamados de cristãos, na acepção mais genuína do termo.

A morte em vida, um paradoxo aparente, na trajetória do cristão, não significa dor, tragédia, e tampouco desgraça, pois esta última está sobre aqueles que não aceitam, desconhecem, ou que, por vontade própria, preferem viver no mundo sob o estado de liberdade inegociável, recusando, repulsiva e compulsoriamente, o Plano da Salvação, para a tristeza de Deus. Ao contrário: morrer em vida é morrer para este mundo, que está sob a esfera da malignidade e corrompido pela herança maldita, que fora o pecado adâmico. Logo, ao morrer em vida, o cristão verdadeiro inclui, em seu vocabulário diário, a palavra RENÚNCIA. Este é o sacrifício singular, referido nesta breve reflexão. A renúncia, para o cristão, é sinônimo pleno de consciência; da consciência cristalina de que as coisas dessa terra e desse mundo não pertencem mais à sua realidade, pois são ilusórias, efêmeras, e, portanto, não assegurarão um lugar na Eternidade, ao lado do Pai. Tais coisas, sem delongas, são, incontestavelmente, o passaporte para o inferno.

Uma vez ressuscitado pela consciência, e tendo a certeza de que este mundo se desmoronou juntamente com seu passado de velha criatura,  o cristão, sob o estado da Graça, que superabunda e solidifica a fé, migra da cegueira atlântica, que o acometia, antes de conhecer a Jesus Cristo, para a visão espiritual completa, cujos olhos contemplam o Reino de Deus, aqui na terra, até o dia do arrebatamento da igreja ou o dia do juízo, em que todos os cristãos, definitivamente, viverão na Nova Jerusalém.

Ao ingressarem no Reino do Senhor, que prega o amor, a justiça, a paz; e toda sorte de virtudes, que emanam do Espírito Santo, os cristãos têm a certeza imbatível de que, mortificados em Cristo, esses têm suas vidas escondidas, guardadas, protegidas e preservadas na rocha, que é o próprio Jesus Cristo. Este nome, sim, é a senha de acesso infalível para adentrar o Paraíso, e a única sentinela do assento de todos os cristãos, que, um dia, estarão sentados, todos juntos, à direita do Altíssimo nos céus.

Pensar nas coisas de cima é um apelo profético ao desprendimento de tudo aquilo que é terreno, do que é material e de todas as coisas que vilipendiam o Homem, seja em prisões espirituais, seja em grilhões carnais, onde a pseudoliberdade, em sua essência, não passa de uma jaula eterna e mortificante, sem qualquer direito à escolha. A aparente liberdade é a encarnação do próprio vício, da corrupção e da degradação daquele sobre a terra. É, em última análise, a cruz invertida, que não fere a carne, mas que sangra a alma, tragando-a para o abismo sem fim.

A intimidade com o Pai, através da vida de seu filho - Cristo, o Messias -, timbra a vida do cristão com a marca inconfundível da liberdade que aquele tem em relação às coisas do mundo. Neste sentido, o verdadeiro cristão, para viver uma vida de santidade, segundo a exortação paulina, deve apartar-se do mundo para que possa herdar o direito legítimo à vida eterna, e se transformar em pássaro de luz; arauto das Boas Novas, vindas céus. 

Da morte à ressurreição, da consciência sobre o verdadeiro sentido das coisas do Alto à renúncia de uma vida desmedida, o ensinamento paulino versa sobre a busca da santidade; e esta última é somente alcançada quando o cristão permite, em instância final, que Jesus Cristo entre em seu coração e reine soberano como Nosso Senhor.

6 de julho de 2011

SALMO 139



 Senhor, tu me sondaste, e me conheces.

Tu conheces o meu sentar e o meu levantar;
de longe entendes o meu pensamento.

Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar,
e conheces todos os meus caminhos. 

Sem que haja uma palavra na minha língua,
eis que, ó, Senhor, tudo conheces. 

Tu me cercaste em volta, 
e puseste sobre mim a tua mão.

Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; 
elevado é, não o posso atingir.

Para onde me irei do teu Espírito, 
ou para onde fugirei da tua presença?

Se subir ao céu, tu aí estás; 
se fizer no Seol a minha cama,
eis que tu ali estás também.

Se tomar as asas da alva
se habitar nas extremidades do mar,
ainda ali a tua mão me guiará
e a tua destra me susterá.

Se eu disser: 
Ocultem-me as trevas; 
torne-se em noite a luz que me circunda;

nem ainda as trevas são escuras para ti, 
mas a noite resplandece como o dia;
as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.

Pois tu formaste os meus rins;
entreteceste-me no ventre de minha mãe.

Eu te louvarei, 
porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; 
maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.

Os meus ossos não te foram encobertos, 
quando no oculto fui formado
e esmeradamente tecido nas profundezas da terra.

Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, 
e no teu livro foram escritos os dias, 
sim, todos os dias que foram ordenados para mim,
quando ainda não havia nem um deles.

E quão preciosos me são, ó, Deus, o teus pensamentos!
Quão grande é a soma deles!

Se eu os contasse, 
seriam mais numerosos do que a areia;
quando acordo ainda estou contigo.

Tomara que matasses o perverso, ó Deus,
e que os homens sanguinários se apartassem de mim,

homens que se rebelam contra ti,
e contra ti se levantam para o mal.

Não odeio eu, ó, Senhor, aqueles que te odeiam?
E não me aflijo por causa do que se levantam contra ti?
Odeio-os com ódio completo;
tenho-os por inimigos.

Sonda-me, ó, Deus, e conhece o meu coração;
prova-me e conhece os meus pensamentos;

Vê se há em mim algum caminho perverso
 e guia-me pelo caminho eterno.



                                                                                                                  

23 de junho de 2011

AMOR, SUBLIME AMOR!


"Eu tenho tanto pra te falar/ mas com palavras não sei dizer/ como é grande o meu amor por você..."
                                                                      Roberto Carlos / Erasmo Carlos

Quem não se lembra desses versos que, efetivamente, se tornaram clássicos no repertório da música nacional? Palavras que traduzem a dimensão do mais nobre dos sentimentos humanos: o Amor. Amor que pode ser dito de várias maneiras, que pode transcender mundos e existências, e, que, indelevelmente, fora a centelha que gerou a vida nos milhões de mundos que Deus criou na cena dos primórdios.  
O tema do Amor, portanto, é universal. Sem fronteiras e sem limites, quem poderia definir o que é realmente o Amor? Penso que a tarefa, hercúlea por excelência, resvalaria, indubitavelmente, para um vácuo sem fim. Assim, é lei pétrea de que os seres humanos não são capazes de compreender a natureza, a necessidade, e, sobretudo, a permanência do Amor, porque, paradoxalmente, embora esses atores sejam os portadores da força que engendrou a existência de todas as formas animadas e inanimadas, a partir do Nada, essas personagens são, também, debéis para plenificar e construir a equação divina do Amor, pois todos nós somos frutos coletivos de um amor que nasceu no coração de uma entidade suprema; de um ser ubíquo, que já era, é e sempre será: DEUS. Não geramos o Amor, mas fomos gerados por este, através da vontade suprema do Pai que está nos céus. Éramos eternos no paraíso edênico, portanto, éramos perfeitos. Entretanto, na evolução de nosso dna, corrompido pela queda adâmica, não restou nada do amor original. O pecado nos tornou criaturas fragilizadas, e a capacidade de amar e ser amados, por conseguinte, vacilou, para a desgraça e a errância da Humanidade. 
Destarte, quaisquer tentativas para abarcar o ilimitado Amor é potencialmente similar à ideia de um grão de areia que se perde para sempre no espaço sideral. Nós somos o grão de areia. Ínfimo, limitado e perecível. O Amor é diametralmente oposto: é imensurável, infinito e eterno, pois o próprio amor se confunde com a essência do Criador - inesgotável porque mantém a complexa dinâmica do universo e contínua para proteger a criação dos possíveis desvios que poriam em risco a sobrevivência da obra da inteligência absoluta.
 A miopia, portanto, é a condição física de que dispomos para vislumbrar a substância poética, que é o Amor, e que verte pujantemente do seio do Deus, alcançando-nos de diversas formas e concedendo-nos o renovo diário, através da indissoluta misericórdia -  um dos atributos primos da deidade.
Platão, um dos maiores filósofos da antiguidade clássica, não excluiu do pensamento o excelso plano da divindade nem tampouco desprezou o lugar do Homem na realidade; antes, ao revelar a verdade, que define o ser dos lógos no mundo, com efeito, o ilustre pensador, implicitamente, indicou o possível tópos onde está o Criador. No Mito da Caverna, o que vemos, segundo Platão, são sombras projetadas na parede. O Homem, segundo o filósofo, é imperfeito o bastante tanto para contemplar a verdadeira natureza das coisas, em sua essência fundamental, quanto para contemplar a possível face de Deus. Logo, a poderosa luz, que projeta tudo que existe e pulsa vida, e as coisas, em sua morfologia completa, não podem ser testemunhadas por nós, os mortais, que temos de aceitar a nossa torpe condição por, um dia, num passado remoto, termos participado do pacto maldito da desobediência. À nefasta traição e infelidade com o Criador, seguiu-se a quebra do elo que nos mantinha unidos às mais altas esferas celestiais, e iniciou-se, para a desgraça do Homem, a eterna noite que nos cobriu e nos afundou em sombras densas, fantasmagóricas e mortais.
A cobiça semeada no coração adâmico aniquilou a essência do Amor e seu efeito químico. A incompreensão do mais belo dos sentimentos e que se confunde com a natureza do Criador transformou o Homem num ser bestial, cego, impulsivo, egoísta e destruidor. Assim, a primícia da Criação sentiu na própria pele o sabor amargo da solidão, e maculou, para sempre, a imagem que o tornava semelhante a Deus. Perdido e errante, marcado e arrependido, o Homem esqueceu o que era o Amor, esqueceu o que era amar, e, consequentemente, não podia ser mais amado. Soubera, um dia, que Deus o amara, mas, lamentavelmente, olvidara-se do amor incondicional do Criador em relação às criaturas.
O amor de Deus é sublime porque transcende as dimensões corpóreas; é inexplicável sob regras humanas; é singular porque é único; é soberbo porque é grandioso; é insigne, excelente, e, claro, perfeito. Este é o amor incondicional sobre o qual temos lapsos longínquos na memória, e que perdemos quando as cadeias foram rompidas. Amor que mantinha nossos corpos e almas em permanente estado de gozo espiritual e em comunicação perpétua com o Criador. Força suprema que irradiou a luz primeva e nos coroou como o centro na obra máxima de Deus: a Terra.
As Escrituras Sagradas, sobretudo no Novo Testamento, apresentam extratos cimeiros sobre o Amor; e é na figuração do Cristo Jesus que o Amor se funde nos ensinamentos,  na vida, e, principalmente, na passagem do filho de Deus na terra para trazer ao Homem a mensagem dos tempos perdidos: a verdade divina e imutável sobre o amor incondicional, que emanou do coração do pai celestial.
Nessa diretriz, portanto, coube ao apóstolo do Amor, o evangelista João, a imperiosa missão para transmitir as palavras messiânicas sobre o amor incondicional, e que são cristalinas no texto emblemático intitulado Jesus: A videira verdadeira. Relata-nos o apóstolo:

       Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.
       Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor;
       do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai
       e permaneço no seu amor. 
       Estas coisas vos tenho dito para que o meu gozo permaneça em vós,
       e o vosso gozo seja completo.
       O meu mandamento é este: que vos amei uns aos outros
       assim como eu vos amei.
       Ninguém tem amor maior do que este, 
       de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
       Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 
                                                                                              João 15 : 9 - 14.

A condição do Amor é, nas palavras do próprio Jesus, na letra joanina, a preservação dos mandamentos do Pai. E guardar seus mandamentos é retornar ao ato de obediência, de cuja prática a Humanidade se distanciou; e que o tempo maravilhoso da Graça apela para o retorno da audiência e do cumprimento das palavras de Deus, transmitidas aos discípulos de Cristo no Novo Testamento. 
Este é, indelevelmente, o princípio absoluto para que o elo se restabeleça entre o Homem e Deus, através de Cristo Jesus, pois a plenitude do amor universal é a força sublime que nos arrebata para as dimensões do espírito afim de que alcancemos, no coração do Pai, sua vontade soberana: amar ao nosso próximo como Seu filho, um dia, nos amou. Lição de vida, ensinamento de morte, pois o sublime amor, que flui da essência do Criador, na representação do Grande Eu Sou, é o amor dadivoso; é aquele que subtrai a própria vida em deterimento da de outrem.
Deus nos amou quando nos criou. Deus nos amou quando permitiu que Seu filho, sem máculas, sem pecado, fosse morto, pendurado e sacrificado numa cruz para que a Salvação atingisse a todos, indistintamente. E o amor do Pai, que ficara órfão de Seu próprio filho, por nossa causa, continua sublime e incondicional. Como compreender tal atitude e que nos precipita nos limites da loucura?
Estamos míopes para contemplar a face de Deus, ainda; mas não estamos loucos para receber os ensinamentos crísticos e aprender a amar a todos, da forma como Ele nos amou e nos ama, até à consumação dos séculos. Somos pecadores, mas o Amor nos torna tão sublimes como o Monte Olimpo, o mais alto que existe no universo vísivel para esta humanidade, e que não está na Terra, mas em Marte.
Os belos versos da canção, que iluminaram este texto, não são declarações do Pai proferidas a seus filhos, mas, com efeito, podem ser nossas palavras de amor ao reconhecimento àquele que nos deu a vida e nos ama incondicionalmente, ainda que tropecemos, ainda que falhemos!
Como bem diz o evangelho de João, guardemos os mandamentos de Jesus; obedeçamos à  boa e necessária ordem que vem do Alto: amemos ao Pai, mesmo que não tenhamos palavras para expressar tamanho amor; amemos ao próximo, pois esta é a mais perfeita oração que alguém pode proclamar aos homens e a Deus, pois, desse modo, formaremos a grande ciranda da amizade, e as correntes serão elos vivos de um amor puro, singelo, único e transformador.