Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, com a alva, é certa;
e Ele nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra.
Oséias 6 : 3

23 de junho de 2011

AMOR, SUBLIME AMOR!


"Eu tenho tanto pra te falar/ mas com palavras não sei dizer/ como é grande o meu amor por você..."
                                                                      Roberto Carlos / Erasmo Carlos

Quem não se lembra desses versos que, efetivamente, se tornaram clássicos no repertório da música nacional? Palavras que traduzem a dimensão do mais nobre dos sentimentos humanos: o Amor. Amor que pode ser dito de várias maneiras, que pode transcender mundos e existências, e, que, indelevelmente, fora a centelha que gerou a vida nos milhões de mundos que Deus criou na cena dos primórdios.  
O tema do Amor, portanto, é universal. Sem fronteiras e sem limites, quem poderia definir o que é realmente o Amor? Penso que a tarefa, hercúlea por excelência, resvalaria, indubitavelmente, para um vácuo sem fim. Assim, é lei pétrea de que os seres humanos não são capazes de compreender a natureza, a necessidade, e, sobretudo, a permanência do Amor, porque, paradoxalmente, embora esses atores sejam os portadores da força que engendrou a existência de todas as formas animadas e inanimadas, a partir do Nada, essas personagens são, também, debéis para plenificar e construir a equação divina do Amor, pois todos nós somos frutos coletivos de um amor que nasceu no coração de uma entidade suprema; de um ser ubíquo, que já era, é e sempre será: DEUS. Não geramos o Amor, mas fomos gerados por este, através da vontade suprema do Pai que está nos céus. Éramos eternos no paraíso edênico, portanto, éramos perfeitos. Entretanto, na evolução de nosso dna, corrompido pela queda adâmica, não restou nada do amor original. O pecado nos tornou criaturas fragilizadas, e a capacidade de amar e ser amados, por conseguinte, vacilou, para a desgraça e a errância da Humanidade. 
Destarte, quaisquer tentativas para abarcar o ilimitado Amor é potencialmente similar à ideia de um grão de areia que se perde para sempre no espaço sideral. Nós somos o grão de areia. Ínfimo, limitado e perecível. O Amor é diametralmente oposto: é imensurável, infinito e eterno, pois o próprio amor se confunde com a essência do Criador - inesgotável porque mantém a complexa dinâmica do universo e contínua para proteger a criação dos possíveis desvios que poriam em risco a sobrevivência da obra da inteligência absoluta.
 A miopia, portanto, é a condição física de que dispomos para vislumbrar a substância poética, que é o Amor, e que verte pujantemente do seio do Deus, alcançando-nos de diversas formas e concedendo-nos o renovo diário, através da indissoluta misericórdia -  um dos atributos primos da deidade.
Platão, um dos maiores filósofos da antiguidade clássica, não excluiu do pensamento o excelso plano da divindade nem tampouco desprezou o lugar do Homem na realidade; antes, ao revelar a verdade, que define o ser dos lógos no mundo, com efeito, o ilustre pensador, implicitamente, indicou o possível tópos onde está o Criador. No Mito da Caverna, o que vemos, segundo Platão, são sombras projetadas na parede. O Homem, segundo o filósofo, é imperfeito o bastante tanto para contemplar a verdadeira natureza das coisas, em sua essência fundamental, quanto para contemplar a possível face de Deus. Logo, a poderosa luz, que projeta tudo que existe e pulsa vida, e as coisas, em sua morfologia completa, não podem ser testemunhadas por nós, os mortais, que temos de aceitar a nossa torpe condição por, um dia, num passado remoto, termos participado do pacto maldito da desobediência. À nefasta traição e infelidade com o Criador, seguiu-se a quebra do elo que nos mantinha unidos às mais altas esferas celestiais, e iniciou-se, para a desgraça do Homem, a eterna noite que nos cobriu e nos afundou em sombras densas, fantasmagóricas e mortais.
A cobiça semeada no coração adâmico aniquilou a essência do Amor e seu efeito químico. A incompreensão do mais belo dos sentimentos e que se confunde com a natureza do Criador transformou o Homem num ser bestial, cego, impulsivo, egoísta e destruidor. Assim, a primícia da Criação sentiu na própria pele o sabor amargo da solidão, e maculou, para sempre, a imagem que o tornava semelhante a Deus. Perdido e errante, marcado e arrependido, o Homem esqueceu o que era o Amor, esqueceu o que era amar, e, consequentemente, não podia ser mais amado. Soubera, um dia, que Deus o amara, mas, lamentavelmente, olvidara-se do amor incondicional do Criador em relação às criaturas.
O amor de Deus é sublime porque transcende as dimensões corpóreas; é inexplicável sob regras humanas; é singular porque é único; é soberbo porque é grandioso; é insigne, excelente, e, claro, perfeito. Este é o amor incondicional sobre o qual temos lapsos longínquos na memória, e que perdemos quando as cadeias foram rompidas. Amor que mantinha nossos corpos e almas em permanente estado de gozo espiritual e em comunicação perpétua com o Criador. Força suprema que irradiou a luz primeva e nos coroou como o centro na obra máxima de Deus: a Terra.
As Escrituras Sagradas, sobretudo no Novo Testamento, apresentam extratos cimeiros sobre o Amor; e é na figuração do Cristo Jesus que o Amor se funde nos ensinamentos,  na vida, e, principalmente, na passagem do filho de Deus na terra para trazer ao Homem a mensagem dos tempos perdidos: a verdade divina e imutável sobre o amor incondicional, que emanou do coração do pai celestial.
Nessa diretriz, portanto, coube ao apóstolo do Amor, o evangelista João, a imperiosa missão para transmitir as palavras messiânicas sobre o amor incondicional, e que são cristalinas no texto emblemático intitulado Jesus: A videira verdadeira. Relata-nos o apóstolo:

       Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.
       Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor;
       do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai
       e permaneço no seu amor. 
       Estas coisas vos tenho dito para que o meu gozo permaneça em vós,
       e o vosso gozo seja completo.
       O meu mandamento é este: que vos amei uns aos outros
       assim como eu vos amei.
       Ninguém tem amor maior do que este, 
       de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
       Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 
                                                                                              João 15 : 9 - 14.

A condição do Amor é, nas palavras do próprio Jesus, na letra joanina, a preservação dos mandamentos do Pai. E guardar seus mandamentos é retornar ao ato de obediência, de cuja prática a Humanidade se distanciou; e que o tempo maravilhoso da Graça apela para o retorno da audiência e do cumprimento das palavras de Deus, transmitidas aos discípulos de Cristo no Novo Testamento. 
Este é, indelevelmente, o princípio absoluto para que o elo se restabeleça entre o Homem e Deus, através de Cristo Jesus, pois a plenitude do amor universal é a força sublime que nos arrebata para as dimensões do espírito afim de que alcancemos, no coração do Pai, sua vontade soberana: amar ao nosso próximo como Seu filho, um dia, nos amou. Lição de vida, ensinamento de morte, pois o sublime amor, que flui da essência do Criador, na representação do Grande Eu Sou, é o amor dadivoso; é aquele que subtrai a própria vida em deterimento da de outrem.
Deus nos amou quando nos criou. Deus nos amou quando permitiu que Seu filho, sem máculas, sem pecado, fosse morto, pendurado e sacrificado numa cruz para que a Salvação atingisse a todos, indistintamente. E o amor do Pai, que ficara órfão de Seu próprio filho, por nossa causa, continua sublime e incondicional. Como compreender tal atitude e que nos precipita nos limites da loucura?
Estamos míopes para contemplar a face de Deus, ainda; mas não estamos loucos para receber os ensinamentos crísticos e aprender a amar a todos, da forma como Ele nos amou e nos ama, até à consumação dos séculos. Somos pecadores, mas o Amor nos torna tão sublimes como o Monte Olimpo, o mais alto que existe no universo vísivel para esta humanidade, e que não está na Terra, mas em Marte.
Os belos versos da canção, que iluminaram este texto, não são declarações do Pai proferidas a seus filhos, mas, com efeito, podem ser nossas palavras de amor ao reconhecimento àquele que nos deu a vida e nos ama incondicionalmente, ainda que tropecemos, ainda que falhemos!
Como bem diz o evangelho de João, guardemos os mandamentos de Jesus; obedeçamos à  boa e necessária ordem que vem do Alto: amemos ao Pai, mesmo que não tenhamos palavras para expressar tamanho amor; amemos ao próximo, pois esta é a mais perfeita oração que alguém pode proclamar aos homens e a Deus, pois, desse modo, formaremos a grande ciranda da amizade, e as correntes serão elos vivos de um amor puro, singelo, único e transformador.