Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, com a alva, é certa;
e Ele nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra.
Oséias 6 : 3

4 de outubro de 2011

AMAR A DEUS NÃO DÓI!



"Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos.
Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos..." 1 João 5 : 2 - 3.

As palavras de São João estão baseadas no princípio universal do AMOR.  O tratamento que o apóstolo dispensa ao tema do Amor e suas implicações plausíveis para aqueles que acreditam em Deus são fundamentais para a compreensão do advento da Salvação na vida dos crentes e a relação de coerência entre a prática do amor ao próximo e aquela referida, stricto sensu, ao relacionamento com o Altíssimo na condição de filhos legítimos, que herdaram o direito do amor Daquele pela morte de Jesus Cristo, num calvário injusto e numa cruz maldita.

A premissa do amar a Deus é distinta do fenômeno que nos transforma quando nos tornamos os arautos do amor e sua expressão altaneira em relação à proximidade; i.e., todos que desconhecem a Palavra de Deus e, portanto, ignoram o verdadeiro sentido do Amor. A impressão incial, neste sentido, parece ser a da liberdade alcançada com o advento da Graça, além dos males que nos escravizaram antes da consciência sobre o evangelho vivo de Cristo, na terra contaminada pelo pecado, ainda original. Assim, a perseguir esta ótica falseada da realidade, o amor estaria livre de quaisquer amarras, e o mundo, conseqüentemente, seria um estado contínuo da ação do Amar, conjugado em infinitivos pessoais e impessoais - um rascunho possível da Utopia. Mas esta ambiência idealizada é um impedimento natural para o cumprimento de todas as sentenças bíblicas sobre o tempo da Graça, seus desdobramentos previstos, com o fim dos tempos, bem como a dificuldade de se amar em um mundo que está mergulhado na atmosfera do Mal. O paraíso dista, ainda, dos olhos daqueles que nasceram de novo, e que esperam, fortalecidos na fé, o dia do juízo e o da consequente coroação de todos os Filhos de Deus como habitantes da nova Jerusalém.

Amar a Deus, em direção contrária a todas as leis regentes no mundo dos homens,  impõe, de forma inequívoca, um aparente paradoxo. Qual seja: se o conhecimento da verdade é a condição para a libertação da alma de todos os elos que mantinham aquela presa a uma realidade fadada à desgraça, como pensar em uma liberdade, que tem como condição prima um ato do qual não se pode refutar? O mistério se revela e o paradoxo se desfaz, elevando a consciência e a alma humanas  para um plano singular, cuja pertença é a do espírito santificador e purificador de Deus. Antes de amar a Deus é necessário obedecer a Ele. Obediência é a palavra de ordem; e, desse modo, emana da vontade soberana do Pai, que a transmite a todos que creem e amam a sua Palavra, de forma inconteste.

Pais existem para amar seus filhos. Filhos existem, também, para amar seus pais. Cabem aos pais o cuidado, o zelo e a proteção dos filhos; todavia, cabem aos últimos o exercício da obediência àqueles, constante e ininterruptamente. Esta é a relação vital para que o jogo de forças, que mantém o equilíbrio nas relações pais-filhos, promova a expansão sem medida deste sentimento, que, por sua vez, ao ultrapassar os elos da dependência natural e necessária, abre cadeias, rompe fronteiras e produz vida, além da existência finita que nos caracteriza nos limites do Universo aparente e nas bordas dos mundos essenciais, pois o amor é o gerador de todas as coisas, seres e enigmas guardados na consciência divina.

Guardar os mandamentos de Deus, segundo as palavras de São João, é selar a relação de cumplicidade entre os filhos que amam o Pai, preservando a vontade soberana do Altíssimo, e delegando a Ele toda sorte de desígnio para que a direção de nossas vidas esteja explícita e irrestritamente em suas mãos, dadivosas, acolhedoras e misericordiosas.  Cumplicidade que se completa na escuta do Espírito Santo, que nos envolve e nos indica, através do sobrenatural, qual caminho devemos / deveremos trilhar como seguidores do Cristo, o primogênito de Deus.

Amar a Deus implica guardar seus mandamentos. A guarda é o estado de vigília, em silêncio, no qual a oração é a bússola que norteia a busca pela presença Daquele, através da perseverança em dialogar com o Pai; nas atitudes que consagram a vida de um cristão autêntico, e, principalmente, obedecendo às ordenanças do Senhor, que entregou à morte de cruz o seu único filho no lugar da humanidade inteira para que todos tivessem o direito inalienável da Salvação. Assim, Deus, em sua grandeza, não pensou; antes, agiu, e o fez em segredo, desde que Moisés fora retirado do seio da realeza egípcia para iniciar uma trajetória épica, e que culminaria na vinda do Messias, quase dois milênios, após a escravidão de um povo marginalizado, e que era denominado como o povo que vivia à margem de um certo rio: os Hebreus. A saga de um sonho, que fora, em verdade, uma promessa fundada em profecias, em épocas distintas, na história dos Hebreus, para atingir o cumprimento da Palavra, em sua totalidade, com o advento da vida do próprio Cristo, em carne e osso.

Eis a oportuna indagação: doeu em Deus quando ele deu aos homens da terra o seu filho, o seu único filho, Jesus Cristo, para morrer, de forma cruel e vergonhosa, pendurado num pedaço de madeiro, sem nunca ter cometido um pecado sequer? Não doeu; e todos nós sabemos disto, e esta resposta é tão sólida quanto o advento da crucifixão da qual o Filho de Deus não pôde escapar porque o que estava escrito acerca do Cristo tinha de se cumprir para que todos nós nos livrássemos da morte eterna.

Ora, se Deus não sentiu a maior dor de um pai ou de uma mãe, que é a de perder seu único filho para um propósito universal, que foi a consolidação do Plano da Salvação até à consumação dos séculos, por que sentíriamos qualquer tipo de incômodo ou algum tormento em nome do nosso amor ao Pai, que é, simplesmente, a obediência a seus mandamentos? Guardar seus mandamentos não é fardo ou algo penoso para seus filhos. Ao contrário, é carga leve; é regozijo; é viver o evangelho da Graça, em toda sua plenitude! Guardar os mandamentos de Deus é obedecer; e obedecer não dói! O tempo da Graça é o tempo da liberdade, mas a liberdade para o cristão exige renúncia, mudança de comportamento, novos modos de pensar; regras que devem ser coadunadas com prática de uma vida transformada a partir de uma consciência clara, ampla e permanente sobre o valor do Evangelho e seus princípios que, efetivamente, guiam os Filhos de Deus pelo caminho da retidão, e que, em última análise, é o itinerário da Verdade.

A obediência aos mandamentos de Deus não significa morrer como Jesus Cristo morreu: execrado, humilhado e sacrificado. Mas a desobediência, ato contínuo, gera a morte: a morte física e a morte eterna. Estado da desgraça sob o véu imutável da Eternidade. 

Amar a Deus é compartilhar com o Pai da própria Eternidade; amar a Deus é obedecer às suas ordens conduzidas pela Fé, inquestionavelmente; é ser cúmplice das primícias do Espírito Santo, que nos garante a verdadeira felicidade, e que só interessa àqueles que realizaram com o Senhor o maior de todos os anelos: o Concerto do Amor.