Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, com a alva, é certa;
e Ele nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra.
Oséias 6 : 3

24 de fevereiro de 2012

O TEMPO DE DEUS!


Kairós x Cronos.


PORQUE NÓS SOMOS DE ONTEM E NADA SABEMOS; PORQUANTO NOSSOS DIAS SOBRE A TERRA SÃO COMO A SOMBRA. JÓ 8 : 9.

Angústia.


A angústia é, ao lado do medo, um dos sentimentos mais violentos que acometem o Homem desde o tempo de seu (auto) descobrimento no mundo, na  primeva condição como criatura, e, também, na qualidade sublime como Filho de Deus, pois os crentes e salvos em Jesus Cristo, ambivalentemente, experienciam os tremores e temores que a vida impõe, de uma forma singular. Esta singularidade, a que me refiro, restringe-se à consciência aguda daqueles que portam as insígnias dos evangelhos, e aprendem, ao longo da jornada, como representantes do Reino, o real significado dos valores, dos princípios, dos ensinamentos e dos preceitos ditos cristãos em oposição àqueles que elegem o livre arbítrio como estrela - guia, distante da vontade de Deus e, por conseguinte, reféns de seu corações dados a enganos de toda sorte.


A inconsciência do ímpio.


Na inconsciência em relação à própria vida, o estado de angústia é titanicamente voraz, e, desse modo, entorpece a todos que desconhecem as Escrituras Sagradas, e que, de forma inevitável, sofrem sem saber. A angústia, ainda, promove os perigos da deriva como se as pessoas fossem naus desaguadas em seus próprios desatinos, sendo tragadas por mares bravios e potencialmente mortais; reservando finais não muito felizes para suas vidas. Retrato agudo de almas, que, vazias, tentam encontrar o caminho da felicidade, mas são surpreendidas com abismos vivos, que sobrevivem às custas das desgraças alheias. O tempo da angústia parece eterno e a dor é o inimigo invisível com o qual não se pode lutar, pois batalhar contra o abstrato é tentar, em vão, esvaziar um oceano inteiro com as próprias mãos. Insanidade ou pesadelo?


A consciência do cristão.


Na outra ponta do novelo, a consciência, que é a forte aliada daqueles que seguem os mandamentos de Deus e exercem, de forma livre e com o regozijo na alma as palavras crísticas, não são poupados de quaisquer sensações ou dos estados de tribulação, que são eminentemente humanos. Paradoxalmente, para aqueles que não têm familiaridade com a Palavra Deus, que pensam convictamente que os cristãos estão guardados e protegidos em uma bolha de vidro impenetrável, indestrutível, estando, portanto, livre das intempéries da vida; isto constitui-se em uma visão míope e desacertada da vida daquele e daquela que segue a Cristo. A consciência permite ao cristão, através de vários processos, sejam racionais, sejam espirituais, que aquele perceba que ela é real, e que, sob hipótese alguma, pode e deve ser menosprezada. Os cristãos, como todas as outras pessoas, são seres humanos que padecem das mesmas dúvidas, passam por problemas semelhantes aos de outrem e enfrentam declives e depressões, ao longo de suas vidas. No entanto, a diferença entre aqueles que são regulados pelos ensinamentos bíblicos e os que preferem viver movidos por suas vontades libertárias e princípios filosóficos próprios está no fato de que a grande problemática não está ancorada na angústia ou medo, na coragem ou na desesperança, na tribulação ou na insensatez como costuma fisgar a mente e os atos dos ímpios, mas, antes, na capacidade de ver além do véu; i.e., do discernimento de todas as emoções, através da visão espiritual, que o cristão exercita, e, lamentavelmente, pelo encobrimento cada vez maior daqueles que se distanciam da convivência de Deus. Duas faces  que se antagonizam devido aos valores que elegem para facear o mundo - o justo e o injusto.


Tempo para todas as coisas!


Debaixo dos céus, há tempo para todas as coisas. Tempo para começar; tempo para terminar, como está escrito em Eclesiastes. E a Palavra de Deus, ao transmitir tão sábio ensinamento sobre o tempo, no qual o Homem é o agente e o paciente de todas as ações concorrentes, inclusive passando por momentos de felicidade, e, também, de sofrimento, em todos os sentidos; fatos de natureza rara, que abrangem o ato de viver com todas as suas nuances, e narrados de forma cristalina na Bíblia, no livro citado acima, e que mostra todas as situações pelas quais todos vivenciam, quer sejam os salvos, quer sejam os ímpios. E, neste sentido, as Escrituras Sagradas são contundentes ao asseverar em outro livro, nos evangelhos novos:


PORQUE FAZ QUE O SEU SOL SE LEVANTE SOBRE MAUS E BONS, E A CHUVA DESÇA SOBRE JUSTOS E INJUSTOS. MATEUS 5 : 45.


Esperar no tempo de Deus.


A igualdade, que vem do Alto, como espada, pesa sobre os ombros de todos, e que é, antes de qualquer especulação, dádiva única de Deus, comprovando a grandeza, a infinitude de seu amor e a eternidade de suas misericórdias a nos alcançarem gratuitamente. Os Céus, com efeito, é para todos; o paraíso pertence a todas as pessoas que intentam buscar a face do Altíssimo para ter com Ele uma vida de intimidade, de entrega total, de corpo, alma e coração, e, sobretudo de obediência irrestrita aos seus mandamentos. Mas, o que o tempo tem a ver com tudo isto? Aliás, é mister que se pontue nestas linhas que o tempo, apropriando-me do dito popular para dialogar com as máximas bíblicas acerca do referido tema, é o Senhor de Tudo. E sendo o Senhor de Tudo, antes, não se confunde com o próprio Deus, mas é a transcendência do Altíssimo, que as nossas vagas e limitadas mentes jamais conseguirão vislumbrar quão grande é a sua natureza; a sua essência, que está acima daquele que nos torna finitos: o Tempo.


Deus, o Inefável.


O tempo de Deus não é o nosso tempo, daí porque sermos reféns de todos os sentimentos e sensações que devemos (ou deveríamos) dominar, ter autocontrole, e que fazem parte da nossa constituição na condição de humanos, que somos; criaturas, por fazermos parte da Criação, em todo seu esplendor, e filhos do Senhor, pelo reconhecimento inequívoco da vinda de Jesus e de seu maravilhoso plano de salvação para as nossas vidas. Em primeira instância, por sabermos que harmonicamente os estados da alma, a razão e a fé compõem o arquétipo do Homem, e em segunda instância porque a falta ou a perda do domínio se deveu, é claro, pelo fatídico ato de desobediência, nos primórdios, transformando a pérola da Criação em uma verdadeira locomotiva desgovernada, que ruma em direção ao precipício, quase sem chances de ser parada. É nesta supertensão, que parece uma corda a asfixiar pescoços em série, em inumeráveis forcas, que descobrimos, quando sabemos que o tempo não é nosso, e, sim, do Senhor; que o tempo, ainda que saibamos que não nos pertence, mas, antes, à esfera suprema e divinal do poderoso Deus, é, com efeito, somente Dele, é que devemos potencializar o nosso sentido de vigilância interior para que não sejamos, de forma torpe, enganados pelo próprio coração - morada dos nossos desejos mais infames, paraíso às avessas, que ultraja anjos ao doce sabor das vaidades humanas. Pecado?


O equilíbrio.


O móvel chamado Angústia, inflacionado pela ansiedade, que nos devora por dentro, é, desse modo, a turbulência que pode desestabilizar a balança, que está internalizada em nosso ser, cujo equilíbrio ideal advirá da serenidade e da observância do cristão, que, por sua vez, deverá buscar incessante e incansavelmente, em relação à realidade na qual está inserido, a presença constante do Espírito Santo, a coluna de fogo a nos guiar, pois, através do discernimento, apontará as instâncias alvas e diáfanas, que revelarão, na essência, a mensagem que vem do Alto, seja pelas respostas das orações, seja pelo exercício de escuta da voz de Deus, ou pelo derramamento das infinitas misericórdias de Deus em nossas vidas. É nesta busca necessária que o sentido das coisas do Alto fará com que a visão do cristão acerca do mundo celestial perceba e compreenda, sem desvios, no mundo espiritual, a vontade soberana e inquestionável de Deus. A insondável essência do Criador é, neste sentido, a manifestação inconfundível, para o verdadeiro filho de Deus, do Tempo que vem de cima; do Inefável, da presença do Altíssimo que se confunde com o Tempo, que pensamos ser o tempo, mas que, em verdade, não é; mas, antes, os mistérios da Eternidade, que eclode para todos os seres, através da palavra, seja o lógos imanente, seja o verbo transformado em carne.


Alfa - o princípio - Õmega, o fim.


Deus não tem tempo. Deus é atemporal. É o príncípio e o fim de todas as coisas, inclusive de Si mesmo. A Sua circularidade, encerrada no mistério, que jamais será desvelado, é a manifestação do evento, no qual a deidade se confunde com o próprio tempo. Tudo é a partir Dele e para Ele retorna, de forma implacável. Lei imutável, pétrea e eterna. Há tempo para todas as coisas debaixo do céu, imergindo na palavra de Eclesiastes, mas não há e não haverá, em tempo algum, tempo para o que existe acima do céu, porque lá existe somente uma entidade: a de Deus. E sendo Deus o Criador, Supremo e Único, o tempo de Deus não existe, o tempo de Deus é; este tempo, permanente, contínuo e inesgotável é o Kairós. E é na esfera do Kairós que devemos, todos, afinar nossas débeis compreensões para exercer a temência plena, a obediência inquestionável e a humildade humana - índices que aumentam a nossa sensibilidade para que no mundo espiritual alonguemos nossas visões, testemunhemos a plena vontade do Pai e ouçamos,  na intimidade com o Espírito Santo, a mensagem cristalina verbalizada voz de Deus.


Kairós, o Tempo de Deus.


O Kairós é o determinante e não o determinado; é o que funda e não é o fundado; é o que decide e não é o decidido; é o que transforma e não é o transformado. Acima do céu, o Kairós paira soberano, denso e eterno; abaixo do céu, o Cronos envolve toda a terra e a criação de Deus, que jaz sob a maldição do pecado e da morte, que veio para apartar, momentaneamente, a Criatura do Criador. Este é cenário mais contundente, que denuncia, para além do hiato, que nos separa de Deus, a nossa natureza exemplar: a finitude, que devolve à terra o barro de onde, um dia, saímos; e a existência, que, efêmera, volta para os braços do Pai, se aceitarmos o plano da Salvação em sua totalidade. Desse modo, ao sermos regidos pelo Cronos, somos devorados, pouco a pouco, desde o dia do nosso nascimento. A partir do nosso surgimento, a nossa existência desfia como fio que se perde e se desfaz na poeira das horas, dos minutos e dos segundos, como a areia que voa  e se dispersa ou como o vapor que se desfaz no ar; é o trajeto silencioso do nosso desaparecimento.


Cronos, o tempo do Homem.


O tempo de Deus não nos pertence. Somos dele pacientes e não agentes. O Cronos também não nos pertence, embora pensemos que o seguramos em nossas mãos como se fosse as rédeas de um corcel platinado, que segue seu rumo sem obedecer a comando algum ou ao desejo de qualquer mortal em searas terrenas. O tempo de Deus engole o tempo dos homens. Cronos é apenas uma  sombra da própria morte travestida, e que, um dia, também, como as criaturas, padecerá na consumação dos séculos; quando, então, restará somente o tempo da deidade, a presença excelsa e magnífica do Altíssimo no resplandecer da própria Eternidade. Eis, portanto, a chave do grande mistério: a esperança que devemos ter está na fé cultuada em um tempo que prepondera sobre nossas vidas, minúsculas e limitadas perante Deus. E ter esperança nada mais é do que esperar; esperar pacientemente; é ter a certeza de que as coisas se cumprem, segundo a vontade do Senhor, nos domínios imensuráveis do Seu tempo, pois, no silêncio eterno de Kairós, Deus se faz pronunciar em todo universo, no âmago da Criação e nos termos do Abismo. Diante de sua majestade e glória, as coisas, os seres e seus filhos se prostram para receber do Alto, através da misericórdia, a lei divina na qual sempre esteve predita que o Tempo, o verdadeiro Tempo não tem começo nem fim; não é marcado por ponteiros, não atrasa e nem tampouco adianta. O Tempo é; o Tempo acontece porque o Tempo é o legítimo Senhor de todas as coisas, pois nele Deus se faz presente, eternamente passado, eternamente futuro. Alfa e Õmega se conjugam na ventre da Eternidade.


A morte e a vida.


A nossa memória deve ser edificada em uma premissa angular. Qual seja: ainda que a Vida conheça o desenlace da Morte, a vontade augusta de Deus predomina sobre toda Criação, pois o tempo de Deus - Kairós - reina sobre o triunfo da vida e sobre o aguilhão da morte. O Cronos? Este jamais existiu e jamais existirá; é uma grande ilusão de ótica para que os homens e as mulheres na terra não caiam em desgraça e formem legiões infindas de desesperados a caminharem errantes sobre o fio da navalha, que é a Vida, imponderavelmente bela, mas paradoxalmente cruel.